8 de fevereiro de 2009

Conhecimento e Saber: Uma Visão Bourdieusista

O texto de Nogueira & Nogueira (2001), começa relatando o modo de relacionamento com o saber como marca de distinção escolar e social, ou seja, Bourdieu sustenta que a escola sanciona, valoriza e requer não apenas o domínio de um conjunto de referências culturais, mas também um modo específico de se relacionar com a cultura e com o saber. Bourdieu enfatiza que a sociedade produz, e a escola reproduz, uma oposição entre dois modos diferentes que os indivíduos apresentam, de acordo com sua origem social, de se relacionar com o mundo da cultura. Assim, o primeiro modo, define-se por uma relação de tipo aristocrático, que próprio dos dominantes. O segundo modo, do tipo dos dominados, que é definida por uma relação de tipo popular, caracterizada pela estranheza e pelo embaraço. Na obra bourdieusista, o mais importante é modo pelo qual a cultura foi adquirida: por familiarização insensível, caso dos agentes socialmente privilegiados, ou por inculcação escolar, no caso dos agentes sociais desfavorecidos. Trata-se aqui e dois modos aquisição de cultura: o aprendizado total, precoce, efetuado no seio da família, e o tardio, pela ação pedagógica. A escola também reproduziria, a seu modo, a distinção entre os modos básicos de relacionamento com a cultura: o primeiro, desvalorizado, expresso pelo aluno esforçado, estudioso e aplicado, e um segundo, valorizado, representado pelo aluno brilhante, talentoso e precoce, que atende às exigências da escola sem um esforço grande. Dessa forma, o sistema de ensino, segundo Bourdieu, consagraria o segundo tipo. Nogueira & Nogueira (2001) continua, agora relatando que Bourdieu observava que as avaliações formais exigem dos alunos muito mais que o domínio do conteúdo transferido, que por sua vez faz-se cumprir as funções reprodutoras atribuídas à escola. Desse modo, a escola, valorizaria a desenvoltura intelectual, que por sua vez, não poderiam ser adquiridas na escola, sendo produto de um talento nato. Dessa forma, aqui encontramos uma contradição no funcionamento do sistema escolar, ou seja, ao mesmo tempo em que a escola valoriza a relação “cultivada” com o saber, menosprezando a relação escolar com o saber e classifica como inferior o servilismo escolar do bom aluno excessivamente aplicado. Agora, Nogueira & Nogueira (2001), mostra a relação entre currículo e avaliação, onde ao sublimar que o saber escolar está associado à cultura dominante, Bourdieu abre portas para uma analise critica do currículo. Assim, encontramos no pensamento de Bourdieu a tese da estratificação dos saberes escolares, estabelecendo uma hierarquia entre as disciplinas, que vai das canônicas (mais valorizadas) até as disciplinas marginais (desvalorizadas), passando pelas disciplinas secundárias. Desse modo, a escola coloca no topo as disciplinas mais teóricas e abstratas, que exigem habilidades “não escolares”, que só podem ser plenamente adquiridas fora da escola; e rebaixa as disciplinas de natureza mais práticas, que podem ser dominadas a partir do esforço escolar. Por fim, sobre avaliação, o trabalho científico de Bourdieu deixou um legado crítico, importante, sobretudo porque desvelou a função social da avaliação, que se disfarça sob as aparências de sua função técnica. Nessa pesquisa foi formulada a tese de que a avaliação escolar representa, antes de tudo, um mecanismo de transformação da herança cultura em capital escolar. Assim, a avaliação iria mais além do que verificar a aprendizagem, constituindo-se na prática, num verdadeiro julgamento social, baseados implicitamente na maior ou distância do aluno em relação às atitudes e comportamentos valorizados pelas classes dominantes.
Bibliografia
* Nogueira, Maria Alice; Nogueira, Claudio. Bourdieu e a Educação. Editora Autentica. Sao Paulo, 2001.

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